quarta-feira, 17 de setembro de 2014
A ideologia e genialidade por trás do Satoori Rap
Posted by dsafafafafa on 05:11 in Artigos | Comments : 0
BTS (Bangtan Boys) - Satoori Rap Live... por theriseofbangtan1
A principio quando observarmos o Satoori Rap sem nenhum conhecimento básico da rica história da pluralidade linguística coreana podemos acabar vendo a canção como “apenas mais um bom rap do BTS”. Entretanto essa música é muito mais que isso. O Satoori Rap é talvez o maior exemplo da genialidade e das pretensões do Bangtan na música porém não basta apenas ler a tradução para entende-lo, é preciso enxergar toda uma ideologia por trás daqueles versos.
Basicamente a canção é um dialogo entre diferentes províncias, com falantes de diferentes sotaques. Vale lembrar que uma canção assim só é possível graças as origens diversificadas dos membros do BTS, que possui em sua formação:
Suga e V – Daegu
Jimin e Jungkook – Busan
Rap Monster – Seul
Jin - Gwangcheon
J-Hope – Kwanju
Na música temos a representação de 4 línguas, o Kyeongsang satoori, o Jeolla satoori, o dialeto de Seul e o inglês. Naturalmente cada um desses dialetos atribui uma identidade a seus falantes. Para compreender melhor essa situação tentem olha-la em uma escala global, e não como algo exclusivo aos coreanos. Vejam no caso do Brasil, é inegável de que só por se ouvir o sotaque de alguém, terminamos deduzindo uma série de coisas sobre ela. Criamos a ideia de que determinado sotaque é padrão, e de que o outro é “caipira”. Quem aprende nas grandes cidades vê seu sotaque como correto, e todo aquele que vem de regiões periféricas ou interioranas é taxado de alguma forma. O caso coreano é ainda mais sério já que diferentemente de nós em nossos poucos séculos de história não tivemos nenhum caso gravíssimo de briga entre estados, a Coreia em sua história milenar ainda carrega as cicatrizes dos conflitos entre províncias.
A essa altura você deve já estar se perguntando o que o K-POP tem haver com tudo isso, pois bem, imagine como seria se o sotaque paulista fosse considerado padrão para toda a música brasileira. Imagine se os cantores de sertanejo ou os de rock tivessem que esconder seus sotaques e cantar apenas como os paulistas cantam. Seria desastroso, certo? Uma verdadeira opressão linguística... Pois é exatamente isso que o K-POP faz na Coreia, eles adotam o sotaque de Seul como padrão e impõe através da música qual deve ser a maneira “correta” de se falar.
Fazer uma canção com 4 línguas diferentes como o Bangtan fez, é praticamente um grito de resistência dentro do pop coreano. Tudo tem inicio com a discursão entre aqueles que falam Kyeongsang e Jeolla, presente na primeira parte da música. J-Hope e Suga marcam bastante seus sotaques o que é algo incrivelmente corajoso no K-POP, e expõem as qualidades daqueles que falam assim. Como se já não houvesse ousadia suficiente, Rap Monster nascido e criado em Seul completa o espetáculo desafiador do grupo.
Nos versos de Rap Monster fica bem claro não só a ideologia da capital sobre as demais cidades mas da própria indústria de ídolos que tenta globalizar juntamente com o inglês, o coreano falado em Seul.
O BTS trouxe com admirável maestria os dialetos estigmatizados da periferia, para o centro da cultura popular coreana. O live da apresentação no Show Champion parece mais uma brincadeira com as palavras, colocando todos os sotaques do grupo em um único patamar. A coreografia cheia de entusiasmo e a energia transmitida pelo garotos contagia e transmite uma mensagem de inclusão. Esta representação de múltiplas identidades coreanas empurra para trás a ideologia de padronização, ao mesmo tempo que abre o caminho para o BTS representar a Coreia entre os chefes do Hip Hop mundial.
Ver um grupo ainda Rookie tomando frente em um tema tão polêmico não só é digno de admiração como nos leva a perguntar o quão longe esses jovens pretendem ir. Se o K-pop precisava de um representante inovador e disposto a sair da zona de conforto, o Satoori Rap é um dos exemplos que comprova não só a aptidão do BTS ao cargo mas também sua vontade em carregar uma ideologia globalizada mas que não abandona em momento algum as raízes do grupo.
Escrito por The Rise of Bangtan
Fontes que contribuíram neste artigo: ATK Magazine, Pop Gasa, Radio Palava, BTS Trans, Reddit e Korean Notebook.
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